Deitada em sua cama, numa noite só, sem ninguém por perto.
Acabara de passar momentos incríveis com o seu melhor amigo. Alguém que a
compreende, a ama, a aceita como é. Embora não tenha passado um dos seus
melhores dias, devido a algumas debilidades físicas, estava imensamente feliz.
Por quê??? Ela tinha o amor daquEle que se fez carne para habitar entre nós e
nos dar o que precisamos: vida de verdade.
Poucos dias atrás, ela passara por um turbilhão de
acontecimentos que agitaram profundamente seu fim/início de ano. Grandes
conflitos internos levaram-na a olhar para dentro si e encontrar o que estava
errado e, talvez, algo de bom. Não queria se vangloriar, mas lembrava de seus
bons feitos e das vidas que ajudou, das oportunidades aproveitadas, enfim. Gostava
do que estava vindo à sua mente. Até que, de repente, seu semblante enrijece e
seu coração acelera, não gosta nada do que vê: sujeira, alguns venenos
escondidos no canto da estante, algumas indiferenças, um pouco de raiva, uma
pitada de rancor, um espaço pequeno, porém significativo para a tristeza que a
assolava, ciúmes, impaciência.
Não entendia o por quê de enxergar todas essas coisas que todo
mundo insiste em esconder e ela achava que já havia jogado fora. Seria
necessário mesmo se expor para si mesma, de uma forma nua e crua, suas piores
lembranças, dores e atitudes ruins? Por que não deixar essas “coisinhas”
embaixo do tapete e continuar vivendo como antes: tudo sempre igual. Por que
teria de mudar agora?
Ficou por alguns dias se indagando a respeito disto, por
mais coisas “legais” que fizesse, enxergava, na maior parte do tempo, seus
defeitos e os fantasmas descritos acima que assolavam sua mente e coração.
Já cansada de tudo, resolveu, finalmente, perguntar ao seu
melhor amigo o que estava acontecendo. Ele sorriu e disse: “Desde o momento em
que você decidiu me servir de verdade, me pediu algumas coisas, que julguei
fundamentais para o seu crescimento. Você não se lembra”?
Envergonhada e ao mesmo tempo surpresa podia ver diante de si algumas imagens
de suas idas aos cultos ou no silêncio do seu quarto quando clamava: “Senhor
retire de mim, TUDO o que não te agrada. Me faz ser o melhor em Ti. Mostre-me
as potencialidades que tenho e nem mesmo sei. Faça o que for preciso!”
Lembrou-se de inúmeras orações como estas umas com mais
afinco, outras feitas sem forças, outras pelo calor do momento, que por um
breve instante, esquecera. O Senhor a toma pela mão e a assenta em seu colo
dizendo: “Eu recolho cada oração que você faz e não me esqueço de nenhuma delas.
Não se apavore quando eu começar a respondê-las. Faz parte do meu plano perfeito.
Eu estou sempre com você”.
Um pouco acanhada, abriu-lhe um sorriso, o abraçou bem forte
e respondeu: “Por um breve momento eu me esqueci de tudo isso, mas não posso
resistir ao teu chamado. É maior que a minha vida. Não sei o que vou fazer, nem
por onde ir, mas não me leve onde o Senhor não esteja e onde seu amor não possa
me alcançar. Eu o amo, mas sou demasiadamente falha, todos os dias faço o que
não quero, mas tenha misericórdia de mim e me ensine o que é verdadeiramente te
servir”!
O Senhor se alegrou e disse: “Apenas confie TODA sua vida em
minhas mãos. Tudo ficará bem. Eu te amo”!
Ela enfim, apagou a luz e dormiu em paz.