Thaísa Helena
"Sábio em suas raízes etimológicas, significa 'aquele que degusta'. Ser sábio não é ter acumulado conhecimentos num grau superlativo: é haver desenvolvido a capacidade erótica de sentir o gosto da vida. Sapiência é nada de poder, uma pitadinha de saber e o máximo possível de sabor".
Roland Barthes

A pergunta que não quer calar: A utilização do livro didático é realizada de forma coerente com as propostas dos PCNs? Temos permitido que nossos alunos tenham um pouco de sabor?

O livro da coleção "Eu Gosto"- 2º ano do Ensino Fundamental das autoras Célia Passos e Zeneide Silva nos faz repensar a prática do ensino de língua portuguesa na sala de aula.
Embora a proposta do livro seja de uma educação formativa, sua diagramação e formatação dos conteúdos coloca em xeque tal aplicabilidade.

O livro é separado em lições, embora as leituras que as iniciam sejam interessantes, as atividades são extremamente moldadas e fechadas em si. Como lemos no texto de Irandé Antunes, algumas práticas de escrita são um tanto quanto irrelevantes como exercícios de fixação, separação de sílabas, reconhecimento de dígrafos, encontros vocálicos e consonantais.
As atividades estão inseridas em um contexto tradicional, onde a predominância é o famoso "decoreba". Questões como "separe as sílabas" ou "transcreva a frase", "encontre o dígrafo", os ditados tornam a aprendizagem mecânica e não estabelecem relações com o desejo de aprender do aluno, cerceiam suas habilidades cognitivas e vão em sentido contrário à algumas propostas dos PCN. Tais como o respeito da cultura local e regional do alunos, a valorização da diversidade, a formação do pensamento crítico em meio aos discursos sociais, enfim, reconhecer as regras gramaticais é importante, porém não deve ocupar todo o currículo afastando assim, os alunos de se desenvolverem como cidadãos pensantes capazes de selecionar seus próprios discursos e consequentemente sua forma de atuar na sociedade.
 Toda atividade deve ter um propósito e um contexto. Muitos livros como este, fazem uma padronização esquecendo-se que o que rege a escola é a pluralidade e não a homogeneidade.
Marcadores: | edit post
1 Response
  1. Rosangela Reis Says:

    Thaísa, muito bom este seu post mostrando a maneira ainda engessada dos exercícios no livro didático. Apesar da aparência de modernidade, os alunos ainda são submetidos aos "siga o modelo", impedindo-os de aprender a questionar o porque de tais respostas. Parafraseando o que escreveu, é cada vez mais evidente que toda atividade deve ter um propósito e um contexto, para que o aluno possa fazer um link sobre a teoria e a prática.


Postar um comentário